Ontem, eu estava aguardando o ônibus num ponto movimentado e, para me distrair, escutava “Bohemian Rhapsody”. Costumo levar o meu aparelhinho e ouvir aleatoriamente os 2 GB de música disponíveis, pois, tocava “Galileo, Galileo, Figaro – magnífico”, quando repentinamente apareceu um bêbado exibindo suas próprias e etílicas rapsódias.
Em meio aos discursos acalorados e versos desconexos, sem a pretensão de ser cover do Bruce Springsteen, eis que ele ergue o braço com sua garrafa de aguardente em punho e grita:
Em meio aos discursos acalorados e versos desconexos, sem a pretensão de ser cover do Bruce Springsteen, eis que ele ergue o braço com sua garrafa de aguardente em punho e grita:
- “Born in the USA”!
Eu não tive dúvida, arranquei os foninhos do ouvido para prestar a atenção e tentar desvendar aquela figura.
- Eu sou americano interplanetário! – falou em voz alta.
Pensei: Está de fogo mesmo! Depois de ensaiar aquela pose de Estátua da liberdade, foi direto para a NASA e embarcou no primeiro foguete. Talvez esteja em uma missão importante conferindo se Galileu tinha ou não razão. Talvez ele veja tudo em dose dupla, duas Terras, inúmeros anéis de Saturno, via láctea ou por via das dúvidas, ele deve viajar um bocado. Tendo em vista a circunstância, do meu observatório, presumi que ele estivesse em seu ponto final e senti dó.
- Pensando melhor, eu sou inglês. How are you? – desafiou-me a conversar em outra língua.
Hum, de dó passei para a marcha ré, pois, fui obrigada a confessar:
- Sorry, I don't speak much english.
Ele começou a falar da Inglaterra e notei que era dotado de muitos conhecimentos. De repente, ele apontou para uma moça de longas madeixas e afirmou:
- Eu já tive cabelos assim!
Diante de tamanho ponto de exclamação, interroguei:
- Você é roqueiro?
Dois pontos: Remetendo-me ao hino do Reino Unido, além de Sex Pistols, o homem bradou:
- God Save the Queen!
A essa altura, muita gente já tentava despachá-lo para outras paragens até que alguém disse:
- Se você andar naquela direção vai encontrar o Obama.
Ele nem pestanejou e disparou:
- Obama ou Osama? Não importa, duvido encontrar um dos dois na Grã-Bretanha tomando chá com a rainha. To em outra, brothers!
Foi quando uma troupe começou a testar seus conhecimentos numa interminável sabatina:
- Qual a capital da Inglaterra?
- Londres, of course!
- Qual a capital do Chile?
- Santiago, por supuesto!
- Qual a capital da Alemanha?
Seguiu-se uma pausa mais longa que a da vírgula, entretanto, menor que a do ponto. Enfim, a resposta:
- Não é Frankfurt, nem Hamburgo, nem Hannover, nem Sttutgart, hein? Pensaram que iriam me enrolar? Bom, Bonn também não. Ah! “Mas essa cidade é tão imensa, não sei seu nome, nem como lhe chamar”, everybody: “Linda garota de Berlim”... Agora é com vocês: Linda garo... - (recorrendo ao rock do Supla e gesticulando para animar o público ao seu redor).
Ao término do concerto, eu perguntei se ele havia estudado e me surpreendi ainda mais:
- Sou formado em comunicação.
Resolvi apurar melhor:
- Você se comunica muito bem por sinal, mas é formado em Comunicação Social?
- Graduado pela Unisantos e pós-graduado pela Unisanta. – confirmou.
Foi o meu momento ponto e vírgula. O ônibus estava vindo e só deu tempo de tirar uma última dúvida:
- Qual o seu nome?
- Harry… Harry Potter – pingou a resposta em seu melhor estilo agente secreto.
14 comentários:
Hahaha Adorei!
É cada figura que aparece!!
''Todo mundo é melhor do que pensa que é.'' (Augusto Boal), acredito que este ditado descreva o que senti quando li e é sempre bom lembra que a apaencia não faz o cidadão.
Meu carinho
Silvana Marmo
http://profcoordenadorpira.blogspot.com/
Cara,que figuraça! quem dera se todo bebum fosse assim! Lu,excelente crônica;até fiquei com vontade de conhecer essa peça rara! Ele pode não ser o Harry,mas que é Hip,Hurra! Ah,isso esse nosso bródi alcoólico é...
Tem gente que se acha o rei da cocada preta, mais a realidade é bem diferente, muitas vezes por detraz dessas mantas estão lobos sanguinários, nunca deixo me levar pelas aparencias nem por istorias contadas, espero para ver e crer.
Abraços forte
Muito comovente a história,realmente é triste se deparar com uma pessoa nesta condição e ainda por cima constatar que a mesma tem preparo,estudo...não podemos nunca julgar um livro pela capa.
Bjos
Oi, Mari! Essa figura me causou a impressão de ser muito do bem. Beijão e obrigada pela visita.
Amiga Luvaz, encontramos com cada figura, que até mesmo Deus duvida... rs Mas esse homem era mesmo muito especial, e foi uma pena vocês não terem conversado mais, pois sempre aprendemos muito com esses nômades. Abraços. Roniel.
Oi Luciana,
A sua experiência me fez lembrar de um amigo americano, que apesar das 2 faculdades, entre elas "comunicação", bebia muito. Uma vez saímos juntos de uma boate e ele tinha bebido todas, embora não tivesse ficado cambaleando e falasse normalmente. Mas no caminho pra casa (voltamos à pé) ele cismou de ir andando até a casa de um amigo. Só que esse amigo morava em outra cidade! Mas nada fazia ele mudar de idéia! Esse rapaz sofria do transtorno borderline e eu achava que o transtorno era responsável por esse comportamento.
Olha, poderia até ter dado um garro no bebum ein... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Oi, pessoa! Antes um alcoolatra renomado (Harry Potter) do que um comentarista anônimo, hein? hehehehe... Obrigada por comentar. Até a próxima.
Nunca podemos julgar ninguém pela aparencia. É como um livro: nunca julgar pela capa.
Beijos querida
Nossa Lú, agora fiquei até preocupada com meu futuro como jornalista...saber que nós os comunicadores não são lá muito bentos ,eu já tinha certeza( não me considero 100% normal) ,mas espero nunca chegar a esse ponto de loucura viu, porque é triste ver alguém que poderia estar contribuindo com seus conehcimentos ai largado , bêbado nas ruas.
Beijos no coração
Márcia Canêdo
que maravilha meniiiiiiina!!!!!!!!!
adorei seu texto e adoro a música que vc ouvia no seu aparelhinho ... tb tenho um com as mesmas músicas, suponho.
beijo. e obrigada por este escrito.
Olá, eu amei o seu blog. É impressionante as coisas que testemunhamos, não é?
parabéns! Voltarei sempre!
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