Trilogia: Ler, escrever e viajar

on domingo, 25 de julho de 2010


Eu me orgulho de ter aprendido a ler e escrever com minha mãe. Mas não me orgulho da arte, no sentido de arteira e não de artista, que fiz na escola. Como eu já era alfabetizada, passava o tempo escrevendo as lições ao contrário. O meu caderno precisava de alguma habilidade ou um espelho para ser lido.
 
Mas a magia dessa historinha sem bruxas e princesas, de um tempo que morávamos no fascinante Vale do Ribeira, é que de muitas formas eu sou reflexo, história e criação de mamãe. Ela me ensinou as letras e é minha primeira leitora desde sempre. Eu ainda não publiquei um livro, no entanto, minha mãe tem na memória diversas páginas escritas por mim, incluindo redações escolares e postagens desse blog. 
 
Da meninice até aqui, eu aprendi que existem meias verdades, verdades e verdades verdadeiras. E a ficção pode ser uma mentira recheada de realidades. Alguns fantasmas são de carne e osso, algumas criações transcendem o imaginário e viram criaturas. O espelho pode revelar ou distorcer, tudo depende dos olhos de quem vê. 
 
Há quem viva sua própria vida e há quem só exista se alimentando de existências alheias. O tempo passa para todos, verdade verdadeira, porém, se é corrente ou elo, se aprisiona ou liga, é questão de conjugar ser e ter. Caminhos podem ser percorridos com dor ou amor, pois, com dor não exclui o amor. E o vice-versa nada mais é do que espelho.


“- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro... A alma exterior pode ser um espírito, um fluído, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação”.
Machado de Assis

Hoje é comemorado o Dia do escritor. O mundo da ficção não existe sem enredo, personagens, ambiente, tempo, sentimentos e coragem. O escritor tem um observatório particular. Inspiração não cai do céu, cai de suor, lágrimas, saraivadas para, enfim, elevar. Mesmo que um poeta seja fingidor precisa ser pessoa e ter coração. 
 
O amazonense Lison Costa, uma das mais adoráveis e queridas pessoas da blogosfera, veio ao mundo com um único fio de cabelo e só usou sapatos a partir dos 15 anos. Dos pés à cabeça, Lison, de vida é entendedor e encanta a todos com a sua mente privilegiada. Ele começou a aprender a ler com 12 anos de idade. 


Alguns poderiam dizer que ele começou a ler muito tarde, outros que minha mãe me ensinou muito cedo. Só um fato importa: Nossos espelhos não se quebraram. Construímos nossos blogs palavra por palavra, gostamos de leitura e ponto final. Até o recomeço de mais um edificar desvendando personagens que escrevem. Sim, o escritor é antes de tudo um personagem, alguém que “finge tão completamente e gira a entreter a razão”.  

 E o exercício da leitura não pode ter fronteiras. Se por um lado inspiração não cai do céu, razões podem surgir de escombros. Um terremoto trouxe à tona a literatura baseada no Haiti. Entre guerra e paz, brancos e negros, mundo do futebol e universo de barbaridades, algumas letras saltaram também de livros para as telonas dos cinemas.
 
Tempos difíceis saltam aos olhos, ambientes hostis geram inúmeros argumentos. E há quem acredite que escritor precisa de tempo para amadurecer e, finalmente, nos enredar. Antes de compor a narrativa, é preciso enxergar no espelho rugas que estampem vivência e a profundidade da obra.  

 
“Às vezes, a vida dá nó. A linha do tempo é regida pela agulha do relógio. Os acontecimentos são tantos, que quando unidos viram colcha de retalhos. O bordado é complicado. O dedal nem sempre impede a dor.
 
Uma gota de sangue escorre a cada alfinetada inesperada. Um sofrimento, uma lástima. A costura não para. O tecido é a própria pele, que sente, que fere. E assim segue...
 
De repente, vem a tesoura. Brilhante, ela se impõe. O metal faz seu trabalho, não desamarra, arrebenta. Os laços viram fiapos. E de uma vida, a morte se faz”.

Esse texto é do blog da jovem carioca Mariana Mauro, que acaba de lançar o seu primeiro livro pelo Clube dos autores. “Apaixonada por natureza” conta a história de Lívia Rinny, moça urbana que vai começar vida nova numa pequena cidade do interior e passa por diversas reviravoltas que a impõe mudanças de atitude. 
 
O processo criativo de Mariana traz uma revelação: “Eu cresci escrevendo esse livro e tenho certeza  de que alguém crescerá com ele também... Assim eu espero”. E um dos marcadores da postagem que anuncia a publicação do livro é “felicidade”.
 
O tempo que conta para o ofício do escritor não é a idade, mas o nobre exercício de experimentar viver com um olhar voltado para os espelhos dos semelhantes e refletir no trabalho a sua própria alma. Escrever sem a pena, manusear agulha e linha, sonhar os sonhos dos outros para levar leitores nas asas da imaginação. 


Aos escritores: Desejo sucesso, felicidades e uma boa viagem de dentro para fora.

Aos leitores: Desejo sucesso, felicidades e uma boa viagem de fora para dentro.

9 comentários:

Principe Encantado disse...

Feliz é aquele que tem algo o que fazer, ter algo que amar e algo que esperar, completar o caminho de ser uma pessoa digna, assim se transformando e, depois adquirir a capacidade de ter aquilo que almeja.
Abraços forte

BiscuitVeraMiniaturas disse...

Olá Lu!
Que post lindo! Gostei muito de estar aqui, com você!
Parabéns ao homenageados neste dia!
Bom domingo e um grande beijo,
Vera.

Tiozão das Batidas disse...

Meia verdade : "Eu ainda não publiquei um livro" ;

Verdade : E o livro que você ajudou à escrever ? Não conta ?

Verdade verdadeira :1 - Você vai publicar o seu livro. E eu serei um dos primeiros à comprá-lo.
2 - A sua mãe vez um belíssimo trabalho.

Mari Costa disse...

Oi Lu
Que saudades de você, quando venho visitar e me deparo com esse lindo texto e homenagem a uma pessoa que adoro de coração que é o Lisonn.Parabens pela sua sensibilidade de escrever um texto tão lindo e grandioso, queira tambem lhe dar parabens, pois como é o dia do escritor, você é uma grande escritora que eu particularmente adoro ler seus textos.
Parabens a todos os escritores, blogueiros que tem o dom de escrever coisas que toquem nosso coração e nossa alma.

Bjs

Mariana Mauro disse...

Lu,
Não tenho palavras para descrever o que senti quando li seu post. Um dia importante, uma linda mensagem a passar. Escrever é uma arte, ler é a forma de apreciação. Mundos se abrem, horizontes se ampliam quando folheamos um livro de qualquer tamanho. As palavras ganham vida e das páginas brotam personagens tão verdadeiros, que até assusta. A trama vira realidade e a realidade vira a trama. O escritor é uma ponte. O leitor se encarrega do resto. Lembro da primeira vez que vim aqui... Li seu post e logo pensei: uau, quero ser como ela! Você conseguia e consegue de uma maneira encantadora embrulhar diversos fatos distintos para presente com uma coerência incrível. E hoje ao ler seu post, vejo um trecho de um texto meu e o meu livro... Realmente, sem palavras para dizer o que estou sentindo. Só me resta agradecer, porque por de trás de um escritor existe grandes leituras e seu blog, com certeza, é uma delas! Parabéns pelo texto e pelo dia de hoje. E mais uma vez: Obrigada!!
Beijos!

Jackie Freitas disse...

Lú, minha querida!!!
Nossa...estou sem palavras para descrever a emoção que senti ao ler esse belíssimo texto! Minha amiga, que loucura!!!! Não consegui desgrudar os meus olhos e li cada linha com uma vontade, uma atenção que só estando aqui agora para ver o meu estado! Querida, igualmente aos citados, você é uma grande escritora e já te disse inúmeras vezes que ainda lerei as suas páginas! Sejam elas da vida que te ensinou e irá me ensinar, sejam elas dos seus sonhos que me levarão de carona nesta viagem! Agradeço por poder ter compartilhado conosco essa grande emoção de ser leitora e espero que a sua emoção de escritora nunca saia de nossas vidas! Parabéns, minha querida! Parabéns pelo dia do escritor(a) e parabéns pelos seus gloriosos dias que nos dão textos maravilhosos como este!
Grande beijo,
Jackie

Yolanda Hollaender disse...

Encantei-me com o texto, Luciana! Você sabe cativar e me fez viajar ao ler a sua escrita...
Até hoje guardo dois cadernos de caligrafia, que completei na primeira série. E, olha, que faz tempo! Toda vez que os vejo, me orgulho de ter tido a oportunidade de aprender a escrever.
Que esse seu dom de rabiscar belezuras, continue latente para nos presentear nesta viagem!
Meu carinhoso abraço,
Yolanda

Ebrael disse...

Realmente, me é surpresa que você não tenha escrito um livro ainda. Mas, acredito que tudo é uma questão de tempo e lugar certo, conjunto que os cientistas chamavam de momentum.

Eu já tentei, e ainda o faço, escrever livros. Sei que tenho um bom repositório de ideias, mas... o momentum ainda não chegou.

Há várias teorias para explicar o que o escritor quer fazer, e faz, quando empunha os olhos em direção a novas letras. Para mim serve: CRIAR!! Uma forma intuitiva, Às vezes idiota. às vezes magistral, de macaquear um Demiurgo, de imitar, como uma criança a seu Pai, o tríplice Motus da Criação de Deus - Pensar, Falar e Agir.

Felicidades pra você também, Luciana!

Ebrael.

Luciana Vaz disse...

Oi, Ebrael! Que imenso prazer receber o seu comentário. Nós vamos escrever nossos livros. Mas vc disse muito bem, há o momento certo. Eu acho que o processo criativo tem mesmo um tanto de intuição e um pouco de macaquear, enfim, concordo com o que vc disse. Felicidades e sucesso pra vc. Beijão da Lu.

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