A "nóia" da indiferença

on sexta-feira, 16 de abril de 2010


"A indiferença é para os corações o que o inverno é para a terra*"

Eu ia responder ao comentário da leitora Depaulla sobre a questão do texto “Ansiedade é um caso sério” no próprio espaço daquela postagem. Mas indiferença revela tantas situações! Eu só posso me basear na minha própria experiência e vou partir de uma pergunta para tentar elaborar um pensamento:      

                         Quem cuida da gente?

Em 2001, quando eu fui diagnosticada com a síndrome do pânico, fiquei alguns meses transitando apenas dentro da minha casa. Se por um lado o espaço ficou bastante reduzido, por outro os meus horizontes se ampliaram bastante. 

Nessa ocasião, eu me senti sozinha. Eu nem sabia o que era essa tal síndrome! Eu mesma era indiferente até que ela me abateu! Apesar de toda a compreensão, apoio e total solidariedade que recebi de minha família e amigos, era muito difícil explicar o inexplicável. 

Minha mãe buscava informação nos mesmos livros que eu e me conduzia aos médicos e psicólogos pela mãozinha. A trintona aqui só conseguia andar na rua se a mamãe levasse. Agora já estou quase quarentona, mas isso são outros quinhentos. 

Criei um site chamado, justamente, Ansiedade é um caso sério. Tudo que eu lia, descobria, refletia e tudo que acontecia comigo em termos de crises e superações, eu relatava ali. Em 3 meses, pode-se dizer que conheci o mundo na viagem do pânico. Eu tive que arranhar um espanhol e um inglês porque o site todo escrito em português do Brasil era de utilidade internacional. E, curiosamente, no pânico as pessoas eram indiferentes às suas diferenças.

Diariamente, eu recebia centenas de comentários e e-mails. Com todo o tempo livre que eu tinha, pois, estava afastada de todas as minhas atividades, eu não dava conta de me corresponder com todo mundo, aliás, com todo O mundo. Ainda era um tempo em que as informações sobre o tema não eram fartas e não estou falando do século passado. Apesar de que Freud já teorizava sobre isso lá por volta de 1895. 

A constatação mais triste que eu fiz foi que a maioria dos “paniquentos”, independente de nacionalidades e credos, sofria também de indiferença, o que gerava o medo de ter medo. A síndrome do pânico pode ou não ter alguns desdobramentos, entre eles, a depressão e a ágorafobia. 

“A agorafobia é o comportamento de evitação provocados por lugares ou situações onde o escape seria difícil ou embaraçoso caso se tenha uma crise de pânico ou algum mal estar”.

“Depressão é uma palavra freqüentemente usada para descrever nossos sentimentos. Todos se sentem "para baixo" de vez em quando, ou de alto astral às vezes e tais sentimentos são normais. A depressão, enquanto evento psiquiátrico é algo bastante diferente: é uma doença como outra qualquer que exige tratamento. Muitas pessoas pensam estar ajudando um amigo deprimido ao incentivarem ou mesmo cobrarem tentativas de reagir, distrair-se, de se divertir para superar os sentimentos negativos. Os amigos que agem dessa forma fazem mais mal do que bem, são incompreensivos e talvez até egoístas. O amigo que realmente quer ajudar procura ouvir quem se sente deprimido e no máximo aconselhar ou procurar um profissional quando percebe que o amigo deprimido não está só triste.”

Quando um paciente não encontra entre familiares e amigos o apoio correto, ou seja, quando é cercado de gente que não entende o seu problema como doença, mas como xiliques, piripaques, frescuras, preguiça e tudo mais, esse paciente encontra mais um obstáculo, mais um agravante para o seu estado físico e mental.

Eu saí logo da minha “prisão domiciliar”, principalmente porque tive todo o tipo de ajuda e compreensão que uma pessoa pode ter tanto de amigos quanto de familiares. Mas há outras indiferenças que podem nos colocar numa roda gigante, nos impor uma série de altos e baixos.

Conheci muitas histórias de pessoas que não conseguiam ajuda médica em suas cidades. Não estou falando só de cidades pequenas e interioranas do Brasil. Recebi dois depoimentos de Londres que eram de arrepiar. 

Estamos falando de enfermidades que não há exames para confirmar e tudo depende da descrição do paciente. Levando em conta que cada um é cada um, as anatomias são parecidas, mas os organismos são diferenciados... Não sei se estou certa em descrever assim, mas deu pra entender, né?

O que ocorre é que os pacientes viram cobaias. Qual é o tratamento? Psicoterapia e Psiquiatria. Encontrar o remédio que te cabe melhor é a drogaria inteira goela abaixo. Isso se você tem condição financeira de ir experimentando todos os remédios que já existem e todos os outros que vão surgindo prometendo inovações. Caso contrário, na farmácia do postinho só tem um que tem que servir pra todo mundo. 

Muita gente há de dizer que também existem outros procedimentos. Milhares de outros caminhos que vão das terapias alternativas às curas pela fé. Eu tenho fé em Deus, não cabe aqui falar de religião, mas eu queria registrar que sou uma pessoa espiritualizada. E terapias alternativas, eu já perdi as contas de quantas fiz. Mas eu melhorei bastante, só não estou curada... Ainda.

Eu tenho um emprego. Sou servidora pública. Isso significa que se eu quisesse escolher outro tratamento que não fosse o psiquiatra, eu precisaria me exonerar. Porque o serviço de perícia médica, obviamente, só reconhece a psiquiatria para tratar esses pacientes. Realmente, se é uma doença, é no médico que vamos tratar.

Mas a perícia também impõe uma série de coisas. Por exemplo: Sou obrigada a visitar a psicóloga toda semana. Não posso revelar a vocês o que conversamos no consultório porque é uma questão de sigilo profissional. Sim, porque a paciente sou eu, mas quem se consulta comigo é ela. 

E também sou obrigada a fazer terapia em grupo. Olha só, o lugar onde instalaram a tal terapia em grupo é tão tranqüilo e adequado que ninguém se arrisca a ir sozinho. O grupo se reúne num outro lugar e vai todo mundo junto por uma questão de segurança. 

Até hoje, eu não dei as caras lá. Mas por uma questão de segurança financeira, é melhor eu aparecer porque acabei de saber que se eu não obedecer as orientações dos médicos da perícia, que não tratam a minha doença, eu vou ficar sem salário. E eu preciso de dinheiro para pagar as consultas particulares com o médico que realmente me trata, pois, o plano de saúde dos servidores praticamente faliu.

Quem vai cuidar da gente? O governo? Se o governo não consegue tratar nem dor de barriga, o que não falta é gente morrendo por falta de atendimento, você acha que as autoridades vão se preocupar com um bando de doidos cheios de frescurite aguda? Quem vai cuidar da gente é a gente e sempre persistindo no sucesso!

* Provérbio:

6 comentários:

Anônimo disse...

Lu,

Isto é indiferença atrás de indiferença. É a indiferença dos doentes, porque estão realmente doentes e chegam a ser indiferentes com eles próprios. É a indiferença dos governos em considerar que os doentes das nóias são mesmo doentes. Continuando na indiferença dos governos: não atinam com planos de saúde abrangentes (ou partiste uma perna e tratam-te ou dói-te a cabeça e olham para ti com um sorriso escarninho); depois teimam em não dotar os serviços públicos com uma maior quantidade de profissionais; de seguida os profissionais existentes têm muitas epidemias para tratar e ficam sem tempo para as nóias que continuam na indiferença... Bem, acho que já baralhei as indiferenças, mas para o caso é indiferente.

Então, para estas "esquisitices" o melhor mesmo é nunca ter. Não podendo ser evitada, o melhor é ser milionário se não se quiser passar o resto da vida indiferente, ou dentro de casa com medo de respirar!

Beijos
Luísa

Anônimo disse...

Pois é, Lu! Eu não sou milionária, mas se eu te falar o quanto já gastei com tratamentos... pra vc ter uma idéia dava pra comprar um bom imóvel. O meu namorado fez essa conta um dia desses. E o meu caso não se originou num trauma. Os 5 médicos que já consultei ao longo dos anos foram unânimes em dizer que trata-se de um fator genético. Mas eu não to reclusa, não! Meses atrás fiz até um cruzeiro marítimo. Mas é aquela coisa que falei da roda gigante, dos altos e baixos. Estou me preparando para trocar mais uma vez de remédio. E houve reajuste nos preços de todos os medicamentos! Barbaridade! Mas eu sempre entro num novo tratamento com muita fé e serenidade. E eu to vivendo até bem demais. Tem muita gente por aí sofrendo pra valer. Beijos de Lu para Lu. Obrigada pela visita.

Rumquatronove disse...

Grande Lu,belo texto.Gostei demais quando disse que era a psicóloga que se consultava com vc... Um tempo atrás,tive uma depressão cruel,que mexeu com todos os meus três neurônios e 1/2... Fui diagnosticado e "explorado" apenas 2 vezes,não por falta do vil metal, mas por quê tudo que o "maluquista" falava eu já sabia.O que me ajudou mesmo,foi um remédio p/ dormir que era tiro e queda;derrubava até elefante.Demorei +ou-
um ano p/ me recuperar totalmente.Hoje,sou um doido "normal" como qualquer cidadão.rs!
Um abraço e parabéns por sua coragem,por enfrentar a si mesma e vencer!

BiscuitVeraMiniaturas disse...

Lu, minha querida amiga!
Ahahhh ! então entendi um pouco mais o teu sorriso!! na minha nóia eu acho que entendi parte do teu sorriso largo!! se for como minha real(juro) disponibilidade para amar e ver o lado melhor das coisas...e minha real tendência a "deixar pra lá" certas coisas e fazer de tudo para ser feliz... aquele meu lado que existe e insiste em se manter viva em mim,exatamente por medo (hehehe..) será? de ver o lado escuro das coisas e por decepção e cansaço, cair em depressão... chiiii!!!
Esta nossa face, talvez oposta ao que a gente teme, é a que quer nos sustentar, não é falsa, é viva, precisa ser vibrante, é nossa face heróica.
Depressão... deve ser genética ou adquirida por osmose. Querida, não tô brincando com você,viu? porque há tempo sei que ela existe lá, no fundo.. se não fosse assim, eu não me veria lutando para não "entrar nela", de vez em quando. Acho que nos mantemos tão alertas contra a tristeza, que a energia se vai e de vez em quando, a casa cai...
ainda bem que tudo está melhor pra você agora!
Beijo carinhoso, Vera.
(não sei porque estou com problema ultimam/ p/ "seguir" amigos.Meu google trava. Não consegui te seguir aqui)

Depaulla disse...

Gostei muito de seu texto, é tudo pura realidade, mas apesar de tudo isso, ainda dói qdo não te entendem.
Já perdi amigos e até namorado por conta desta "frescurice".
Até mais!!!
(e apareça de vez em quando)

Anônimo disse...

aaahhh ! como me sinto tao so, tao triste,se eu pudesse me escondia bem escondidinha para nao atrapalhar as pessoas ...


beijos a todas...voces mulheres guerreiras

HELOISA

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