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domingo, 16 de maio de 2010

Entre louros e aranhas, o tempero é rock´n roll

Quando Raul resolve tentar tocar violão, Tereza corre para as panelas. Ela não tem a intenção de desestimular o marido, porém, os exercícios musicais são difíceis tanto para quem executa quanto para quem não tem outra opção senão ouvir. Além do mais, ela relaxa enquanto prepara os alimentos, cozinha por gosto. E "ai" de quem dá pitaco em seus quitutes! Raul, pleno de seu juízo, jamais interrompe tal meditação culinária. A não ser que seja requisitado, geralmente para levar o lixo até a rua ou matar baratas e outros bichos sem estimação.                                      

- É uma aranha sim – explicou a mulher.

- Cadê, Tereza? Não, não é. Você confundiu com um chumaço de louro – retrucou o marido.

- Então eu ia confundir aranha com louro?  - revidou a esposa.

- Você tem razão, Tereza. Agora achei a aranha.

- Então mata! - implorou a mulher.

- Não posso - confessou o esposo.

- Como não pode? - pasmou Tereza.

- Meu pai sempre dizia que não se deve matar aranhas - esclareceu Raul.

- Por quê? - indagou a esposa.

- Não sei o porquê, mas se eu matar vou me sentir culpado - esmoreceu o marido.

- Se não sabe o porquê vai sentir culpa de que? - enraiveceu Tereza.

- Ah, acabei de me lembrar! É porque elas comem insetos - aliviou-se o marido.

- Mas não tem nenhum inseto aqui! Mata logo! - impacientou-se a mulher.

- Não tem inseto aqui justamente porque tem uma aranha - gabou-se Raul.

- Eu prefiro os insetos do que a aranha - choramingou a esposa.

- Mas podemos atrapalhar a cadeia alimentar - instruiu o marido.

- Cadeia alimentar na nossa cozinha? Isso é sério? - ironizou Tereza.

- Coisa que pai fala sempre é séria - declarou Raul, cheio de convicção.

Raul jamais conseguiu contrariar o pai, nem depois de perdê-lo para um infarto fulminante. O violão foi herança do velho. Perdido em sua nostalgia, ele já ia se esquecendo de Tereza e seu problema doméstico.

- Então arranja uma formiga pra comer a aranha. Tem um monte aí na mesa – apontou a mulher.

- Formiga? Do tipo gigante? – perguntou o marido, rindo.

- Minha mãe sempre dizia que formiga come aranha. Não sei, de repente se a aranha estiver cambaleante a formiga dá conta – tentou argumentar a esposa.

Tereza lembrou-se da praticidade, muitas vezes hilária, de sua mãe. A dona Celeste tinha resposta para tudo, das mais sábias às mais descabidas. No final das contas, ela sempre elogiava o marido, numa espécie de psicologia conjugal. E seu Onofre, sentindo-se poderoso, resolvia os perrengues. Talvez isso funcionasse com Raulzito.

- Mas formiga não é inseto? Você disse que não havia insetos aqui! – queixou-se o marido.

- E você, sabichão, disse que a aranha garantia a ausência deles. Agora que a aranha não tem mais função na cadeia alimentar da nossa cozinha, toca essa aranha daqui. Toca, Raul! Toca, Raul!

18 comentários:

  1. Oi Lu
    Essa foi muito engraçada, principalmente na parte de psicologia conjugal, vi que eles são craques.Mas adorei o Raul respeitar um pedido do pai, foi bem fofo isso.
    Bjs

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  2. Adorei essa,Lu! rs! sÓ tu mesmo! rS! Que blz.Mas, o pai do nosso grande Raul,além das filosofanças que deixou,pegou muito (ou quase,pq todo rebelbe é liberto) no pé dele.
    Taí,"Sapato 36" p ex. Agora,tenho certeza q o "Rock das Aranhas" é outra história!
    Um grande abraço, Lu! 3.075rs

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  3. Eu sou amiga da Tereza, tenho pavor de aranhas...agora o Raul deu uma aula sobre ecologia e obediencia ao pai.
    Bjos

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  4. Muito boa a história. Gostei mesmo.

    Abraços.

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  5. Oi Luciana,

    Adorei o texto! Está nota 10! Eu sou que nem o Raul. Aqui em casa cuido bem das aranhas. Se vou limpar o teto, tomo cuidado de rodeá-las com a vassoura, tiro as teias velhas porque sei que logo elas farão outra novinha em folha. E na hora de limpar o quintal, quando encontro aquelas teias enormes que brilham ao sol? Ah ninguém toca nessas teias, nem eu. São como castelos. Limpo em volta mas a teia de quintal é sagrada. Não fariam um bordado daqueles tão rápido. Aranhas comem os mosquitos que adoram morder minhas pernas e perturbar minha inspiração literária...rs A gente só tem que aprender a gostar delas.

    bjs

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  6. Toca, Raul!! kkkkkkkkkk E um monte de gente grita isso até hoje!! Espantando mulher da festa ou as aranhas?? Bem, o trocadilho foi infame, mas não perderia isso de jeito nenhum!! kkkkkkkkk

    Bjs Lu!!

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  7. AHAHAHA
    Lú onde foi que você conseguiu essa perola?? AHAHA
    Eninha

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  8. Excelente historia, Lu. Além da já garantia qualidade da escrita, o bom-humor nos prende do começo ao fim. Particularmente, adoro contos e prosas cujo passados no ambiente familiar, com esse tipo de discussão que somente um casal consegue ter. Valeu mesmo. Beijos.

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  9. Bravo, minha querida Luciana Vaz! Muito bravo!! É muito conhecida essa história no dia a dia por que nós casais vivemos de vez em quando!!!

    Muito bom seu texto!

    Até...

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  10. oi gostei muito bem legal

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  11. Ááái! Num quentei e voltei! rs! Queria me chamar "Pedro" só pra ser amigo do Raul! Mas seria o Pedro doido,não o Pedro prego da letra! Toque Raul, meu bródi!

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  12. E aí, Lú. Beleza? Sou seu amigo no diHITT (Andesil, blog: desenhocontemporaneo.blogspot.com) e vim te visitar. Gosto muito deste post. acho realemnte sensacional.

    Parabéns.
    Até a próxima visita.

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  13. Oi, André! Vc nem imagina o quanto me deixa feliz. É muito prazeiroso fazer amigos como vc. Um beijo muito carinhoso da Lu.

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  14. Salve, Jorge! Fico lisonjeada por saber que vc gostou da história. Aproveito a oportunidade e o parabenizo pelo Recanto da Palavras - http://recantodaspalavras.com.br/ . Muito obrigada e um beijo da Lu.

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