Um ano sem Pedro Vinícius

Foi na madrugada de uma terça-feira que nós perdemos Pedrinho. Hoje ele estaria com 12 anos e provavelmente seria uma das crianças sentadas em uma sala de aula da sexta série do Ensino Fundamental. O menino saudável foi embora sem despedidas. O problema que levou nosso garoto talvez pudesse ter sido evitado e o sorriso que brindava nossos dias ainda estaria aqui.

No dia 1º de março do ano passado, Pedro Vinícius Soares Simplício de Oliveira, 11 anos, amanheceu com edema facial no lado esquerdo. Levado ao Hospital São José, por volta das 7h30, foi atendido, porém apenas lhe foi prescrito antiinflamatório em gotas. Não havia técnico de radiologia para realizar exame solicitado pelo médico e Pedro foi encaminhado para casa.

Duas horas depois, o menino piorou e, de volta ao hospital, foi atendido pela plantonista. Foram solicitados exames e, já apresentando piora no quadro, assistido por técnicos em enfermagem, Pedro só teve o primeiro diagnóstico por volta das 16h15. A médica infectologista presente concluiu se tratar de trauma facial e interno. Ela requisitou avaliação de pediatra para prescrição de antibiótico. A liberação do medicamento dependia do aval do pediatra que não se encontrava na unidade de saúde.

No fim da tarde, Pedro Vinícius estava internado na enfermaria, embora o plano de saúde contemplasse apartamento, recebendo apenas soro e medicação analgésica. A família observava o agravamento do quadro e, em vão, pedia providências que não eram tomadas.

O pediatra plantonista apareceu por volta das 22h30, quando o estado do paciente já era gravíssimo. Começaram então a realizar procedimentos de controle de temperatura e oxigenação. A medicação prescrita às 16 horas foi administrada às 23h.

Na época, o Hospital São José não contava com UTI, nem mesmo ambulância. A remoção para o Hospital Regional foi providenciada pela família e teve início por volta de 0h30. O SAMU foi acionado e deslocou-se de Pariquera-Açu, distante 27 km, para buscar Pedro, em Registro. O objetivo era estabilizar o quadro e removê-lo para UTI pediátrica em São Paulo.

Após entrada no Hospital Regional, o paciente teve a primeira parada cardíaca, mas foi reanimado com sucesso. Posteriormente, teve mais duas paradas e faleceu às 4h00 da manhã do dia 02/03/2010.

O relato deste episódio terrível que marcou, para sempre, a vida de toda uma família, visa alertar população e autoridades quanto ao descaso com a Saúde em Registro e Vale do Ribeira. As reconhecidas carências da região, apontada como uma das mais pobres do Estado, não podem servir eternamente de muleta para que dirigentes ignorem que é preciso dar muito mais atenção à vida humana.

Lamentavelmente, após a morte de Pedro Vinícius outros casos envolvendo vítimas de atendimento hospitalar precário circularam pela cidade. Até quando teremos de conviver com dramas semelhantes?

Este relato refere-se ao post Gente grande brincando de médico e um chamado Superior. Tanto as informações quanto o vídeo abaixo foram cedidos pela família de Pedro.