O meu mundo girou. Devo confessar...

on sexta-feira, 10 de setembro de 2010


Certas coisas que vou contar aqui não são exemplos a serem seguidos, por isso, tirem as crianças da sala. Eu me formei em Contabilidade num colégio santista chamado Andradas. Eu não ouso conjugar o verbo estudar  porque seria força de expressão. Mas, ironicamente, eu exercitei bastante a contrapartida.                       

O pessoal repartia as tarefas, mais precisamente as minhas lições de casa. Enquanto a turma se encarregava dos meus balanços, ativos e passivos escolares, eu calculava os custos dos churrascos e desempenhava a minha atividade nata de "promoter estudantil". Eu também organizava jogos de futebol na praia. Sim, as meninas jogavam junto com os meninos. Eu devia ter ficado só na promoção do evento porque minha melhor habilidade futebolística era fazer gol contra. 

Eu também era boa em diplomacia, que não fazia parte da nossa grade curricular, porém, era extremamente importante. Cheguei a fazer um acordo de camaradagem com um professor. Sexta-feira era a melhor noite da balada. Ele não dava falta pra gente na sexta. Ninguém faltava na terça. E durante a tal aula de terça, a turma estudava dobrado, ou seja, o ativo era puxado. Ou seria o passivo? Enfim, o dever.  

Eu sei que para quem não estuda, não faz muita diferença perder aula, mas  vale relatar que eu  perdia porque viajava jogando xadrez.  Vamos combinar que esse esporte é mesmo coisa de “viajandão”, mas quando digo que eu viajava é literalmente mesmo. Eu vivia na estrada "vivendo e aprendendo a jogar”.  Tentando aprender. Eu estava na seleção de xadrez meramente por falta de outras “viajandonas”.

Por essas e outras, não posso deixar de notar que formação e seleção dependem mesmo é de disposição, nem sempre ordenada.  Mas, embora matemática não seja o meu forte, eu sou obrigada a reconhecer que a ordem dos fatores não altera o produto.

Não é só força de expressão dizer que o meu diploma foi quase como ganhar na loteria. Literalmente, o meu diploma foi no mínimo equivalente à cartela cheia de  um bingo.  Eu fiquei de recuperação em várias matérias. Resolvi estudar tudo em uma semana. Eu tinha um ex-namorado gente fina e um namorado lindo. Os dois, tanto o ex-ex quanto o ex-atual-da-época, eram geniais e super bem dotados de Q.I. . Eles me treinaram para eu me dar bem nas provas e isso funcionou em quase todas, quase...

Lembro vagamente da situação. Eu me desdobrei no balanço, o balanço contábil da avaliação, para responder 10 questões de múltipla escolha. Mas o meu balanço dava valores na casa dos mil e as opções da prova só tinham alternativas na casa dos cem. Então, eu apaguei todo o balanço, feito à lápis no verso da prova. Rabisquei bastante, apaguei mais, até ter certeza de que o professor não tinha como visualizar o absurdo. E respondi todas as questões na base do cara ou coroa. 

Eu fui escolhida para ser oradora na formatura, claro, eu falava pelos cotovelos. Pasmem: a liderança da campanha e o responsável pela minha expressiva votação foi o professor daquela disciplina de sexta. Eu era uma pessoa de palavra, afinal de contas, ninguém faltou mesmo na terça e todo mundo passou direto... menos eu! Na certeza de que eu era irrecuperável, pedi para escolherem outro orador e esperei a minha sentença, pois, certamente eu não me formaria. Eleito o meu substituto, uns 3 ou 4 dias antes da colação de grau, saiu o resultado final dos recuperandos. 

Jamais ganhei uma rifa, mas garanti o meu diploma com aquela prova da sorte. Eu não me lembro de outro xeque mate durante a minha carreira de enxadrista, ainda mais com tática e estratégia de dois gênios frustradas na minha santa ignorância em balancetes. 

A formatura foi belíssima! Acho que a festa  foi maravilhosa porque o axé  ainda não era uma febre para condenar o baile ao fim trágico de uma lambaeróbica. Ufa! Fui com um vestido curtíssimo e um salto altíssimo. Coisas da idade e de uma personalidade sapeca. Eu tinha um namorado parecido, fisicamente, com o ator Hugh Grant. Dançamos de Frank Sinatra a Rolling Stones e, obviamente, os hits dos anos 90.

Mas cara de pau tem limites e nunca tive coragem de ir buscar o registro no Conselho Regional de Contabilidade, apesar de ler no meu diploma que eu tinha habilitação plena. Guardei aquele documento para sempre e continuei trabalhando na prefeitura, pois, no concurso público o meu resultado foi legítimo. Se eu fosse depender do meu balanço para ganhar a vida, ih, eu dançaria legal. 

Depois dessa fase, eu vivi um bocado de coisas. O saldo sempre foi positivo. Recentemente, eu tive uma situação conflitante. Estava de alta médica, após 2 anos consecutivos de licença. Mas por uma questão de avaliação pericial duvidosa e mais um tanto de aborrecimentos, o ideal era retomar o trabalho em outro lugar. A transferência foi uma luta demorada e exaustiva. Eu busquei diversas alternativas que não deram certo. 

Quando eu já não via mais saída, a solução apareceu e bingo! Meu novo local de trabalho é a minha velha escola dos Andradas. Sinceramente, eu acredito que seja o presságio de muito mais alegrias na vida. Devo confessar que para a felicidade eu estou sempre de malas prontas. 

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6 comentários:

adautoneves@gmail.com disse...

Parabens!
Gostei de seu texto!
Ainda bem que sempre encontramos uma "luz no fim do tunel", ainda bem!
Quem nunca se viu numa situação assim!?
Ah cheguei aqui pela sua própria indicação e pelas visitas ao Blog, ao diHITT.
Beijos e bom fds.
Adauto

Jackie Freitas disse...

Olá Lú, minha linda!!!
Que bacana conhecer as suas "travessuras" estudantis! Eu também fui eleita oradora de todas as minhas turmas..rsrs...nem imagino por que...rsrs.
Adoro lembrar da minha época de escola. Sabe que não sei até hoje jogar xadrez? E olha que meu ex-marido tentou, viu? Agora, meus meninos amam e eu fico aqui com cara de paisagem olhando e tentando aprender! rsrs
Querida, nem preciso te dizer o quanto curto os seus textos, né? As palavras fluem e entram igualmente na compreensão e no coração.
Você é uma grande notável, amiga!
Parabéns!
Grande beijo,
Jackie

Silvana Marmo disse...

Olá Luciana,
Ao contrario da Sissyn eu era da turma do fundão que fumava escondido no banheiro, pulava o muro para matar aulas, mas nunca tive problemas com notas, acredito que seja o gosto pelo contra.
Também fui muito aventureira e feliz, namorei muito, beijei muito, participei de muitos campeonatos, desfilava com a bandeira entre alas, por causa da minha altura, me sentia o máximo.
Quanto ao xadrez até hoje não sei se sei, meu filho queria aprender e pegamos as regras na internet, acredito que tenhamos inventado um xadrez próprio, não sei, nunca jogamos com quem realmente sabe, mas nos divertimos sempre.
Faço minha as palavras da Jackie, gosto muito de seus textos são sempre muito cativantes.
Meu carinho

disse...

Luciana

Eu andei em um colegio de freiras...mas ainda assim havia diversão...soltavamos a nossa raiva contida nas nossas travessuras...
Estava com saudades de voce!!! Adoro seus textos!!!

beijnhos
joana

Ebrael disse...

Luciana,

Como funcionário público, visualizei perfeitamente tudo o que você tem passado, e o que passou na faculdade. Justamente quando pensamos que somos daqueles que não "ganham nem em rifa de igreja" é que as dádivas da vida nos parecem ainda mais saborosas do que para aqueles que estão "acostumados a vencer".

Também sou desses que penaram para estar onde estou hoje, mas que não troco essas penas por nenhuma vitória fácil, da sorte, pois as chagas são autenticamente minhas.

Bjs!

Ebrael.

BiscuitVeraMiniaturas disse...

Olá Lu!!
Adorei vir aqui hoje e ler este seu divertido texto! Eu era da turma do fundo(quando pude escolher!kkk...porque sendo baixinha, queriam me colocar na frente). Mas tinha ótimas notas e gostava de aprender...estudava em colégio de freiras até metade do ginásio.Não tirava nota 100 de comportamento,porque tinha problemas na aula de religião- ficava impressionada com algumas coisas e fazia muitas perguntas (pecado não muito facilmente perdoado!!). Depois que passei a estudar em colégio noturno, estadual, então sim, passei a escolher sentar na frente, porque gostava mesmo de aprender, fazia amizade com os professores. Aprendi a jogar xadrez com meus irmãos. Faz uma eternidade que não jogo- devo ter esquecido, como esqueci de tanta coisa mais..
Mas não esqueci de você. Que este teu novo emprego lhe traga muitas alegrias!
Beijos.
Vera.

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